terça-feira, março 20

Por que os líderes de TI estão insatisfeitos com seus funcionários?


Uma pesquisa publicada recentemente aqui no Olhar Digital entrevistou 500 profissionais norte-americanos de cargos de liderança em departamentos de TI e o resultado foi surpreendente: a grande maioria acredita que seus funcionários não sabem o suficiente sobre a profissão.

Quando perguntados sobre o que pensam sobre seus funcionários, 93% dos entrevistados disseram que o conhecimento deles é muito defasado. As três principais áreas em que há insatisfação são as de produtividade da equipe, atendimento ao consumidor e segurança. E mais: cerca de 8% dizem que seus negócios são afetados negativamente por essa falta de conhecimento.


30% dos entrevistados disseram que, se compararmos com as áreas de marketing, operações e finanças, as habilidades em TI estão ficando cada vez mais escassas. Redes e gestão de infraestrutura, segurança cibernética e gerenciamento de banco de dados e informação também geram preocupação.

Há, porém, o outro lado da moeda. Mais de 50% dos entrevistados alegaram não possuir processos para identificação de habilidades que realmente precisam. E os chefes de nível inferior culpam os chefes de nível superior por não se importarem com TI.

Para o leitor Maurício Costa, o problema da falta de conhecimento é que, na maioria das vezes, as companhias não investem em seus funcionários. Segundo ele, é preciso que as empresas paguem treinamentos especializados para seus colaboradores, já que a profissão necessita de atualização constante. E ele ressalta: os funcionários não podem tirar do próprio bolso para pagar cursos que serão favoráveis também à empresa.

O executivo de recrutamento da IBM, Rodrigo Souto, acredita que os cursos e treinamentos são realmente importantes para a formação de um bom profissional. A capacitação, muitas vezes, em outras áreas de conhecimento ajuda a empresa e contribui para que a pessoa tenha novas oportunidades, inclusive dentro da mesma companhia. "Na hora da contratação é preciso identificar o conhecimento do profissional versus o que a empresa necessita. Em alguns casos, é preciso treiná-lo em outros aspectos. Por exemplo, um técnico de informática pode precisar de cursos de gerenciamento de projetos para implementar melhores práticas", disse. 

O diretor de engenharia da Cisco, Marcelo Ehalt, também diz que os treinamentos são muito importantes, principalmente, quando é para prever uma tendência. De acordo com ele, a empresa precisa sempre acompanhar as demandas do mercado para preparar seu profissional para o futuro. "Se aempresa acredita que algo será importante, ela deve investir. Dessa maneira, quando a demanda chegar, ela estará à frente de seus concorrentes", afirmou.

Por outro lado, Leonardo Dias, gerente de processos estratégicos da Catho Online, lembra que, algumas vezes, a falta de investimento no funcionário está intimamente ligado aos planos que essa companhia tem para ele. Segundo o gerente, algumas empresas não acham que vale a pena investir em alguém sem futuro ou que não vai aproveitar o aprendizado. Diante disso, é importante avaliar se a falta de investimento é geral ou pontual. 

Já o leitor Leandro Ferrari Villa acredita que a razão do descontentamento é o desvio da função. De acordo com ele, é comum contratarem técnicos em informática e exigirem dele conhecimentos em outras áreas como gerenciamento de rede ou programação de servidores. “Exigem que aprendam tudo sem treinamento e ainda não pagam o salário correto ou fazem reajustes conforme o nível técnico adquirido", comentou.

O executivo da Cisco acredita que o desvio de função pode acontecer, mas o funcionário deve encarar isso como uma oportunidade de desenvolver outras habilidades. Marcelo ainda comenta que na Cisco é comum acontecer o que eles chamam de "job rotation" ("rotação de atividade", em português). A companhia sugere que os funcionários troquem de cargo e passem por outros departamentos para aprender mais e não permanecer na "mesmice". "Acho muito importante saber aproveitar oportunidades, especialmente se as mudanças vêm juntas de cursos e treinamentos para a nova atividade", explicou.

A falta de conhecimento do recrutador também foi apontada pelos leitores como um problema dentro da área de TI. O leitor Felipe Pontes conta que, na maioria das vezes, os entrevistadores não sabem o bastante para conseguir identificar se aquele profissional é adequado para o cargo. O mesmo acontece com as metas e objetivos, como o professor e leitor Fábio Prudente comentou. Muitas vezes os líderes não sabem o que querem de seus funcionários e acabam se frustrando.

O executivo da IBM concorda. Segundo ele, para que este tipo de desvio de função não aconteça é necessário que o requerimento do gerente/diretor seja bem claro e que o recrutador tenha conhecimento na área. Ela também conta que na IBM os recrutadores são segmentados, pois nem sempre a mesma pessoa terá capacidade de encontrar bons profissionais em diferentes setores. "Nenhuma pessoa vai ser boa em tudo e isso inclui os recrutadores. É necessário uma segmentação de áreas", ressaltou. 

O gerente da Catho ainda pontua que os testes práticos são os mais eficazes nestes casos. "As pessoas tendem a se valorizar demais nas entrevistas e para um recrutador sem experiência na área é difícil avaliar. O teste é a chave para identificarmos os candidatos mais preparados, mas não elimina por completo. Só elimina quem realmente não sabe nada", concluiu.

Além destes pontos, o leitor Fábio Amabillis lembra que a falta de investimento nos profissionais e recrutadores sem conhecimento da área apenas confirmam a irrelevância do departamento de TI dentro das empresas. Para ele, este é ainda um departamento visto com pouca importância, por isso é tratado com certo descaso. Já o diretor de engenharia da Cisco acredita que há cerca de dez anos este cenário mudou. De acordo com Marcelo, a relação que a companhia tinha com a área de TI não é mais a mesma, pois, hoje em dia, a TI está no centro das estratégias mais importantes das companhias. "Empresas de qualquer segmento veem a TI como uma área estratégica. As que não veem, estão atrás de seus concorrentes", comentou.

Há ainda outra característica do mercado: de acordo com Fábio, neste segmento é comum encontrar profissionais que dizem saber de tudo quando, na verdade, não são tão capacitados assim. "Os dois lados têm sua parcela de culpa. Muitos chefes não sabem o que querem da equipe de TI, não querem investir e muitos profissionais de TI são mesmo grandes 'enroladores'", disse.

Na opinião do recrutador Rodrigo, o mercado brasileiro está cheio de bons técnicos na área, mas tem sido cada vez mais difícil encontrar profissionais de TI com fluência em outros idiomas. Portanto, se você trabalha com TI e quer ter mais oportunidades na sua carreira, a dica é aprender novas línguas.

Marcelo Ehalt, da Cisco, diz ser importante transferir seu conhecimento dentro da empresa. "Só assim você poderá contribuir para o crescimento da companhia e de sua própria carreira. Você passa a fazer coisas mais relevantes e assumir cargos de mais responsailidade", afirmou. Outra dica do diretor é fazer um plano de carreira e seguir atrás de seus objetivos, mesmo que a companhia não tenha programas de carreira. Ao ter metas concretas, você corre atrás e começa a se portar diferente antes mesmo de obter um cargo mais alto.

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